Demolição de parte do Colégio Salesiano gera comoção nas redes sociais

A circulação de diversas fotos da demolição de parte da estrutura física do Colégio Salesiano Sagrado Coração, no bairro da Boa Vista, gerou comoção geral nas redes sociais.  

Uma área de 30 mil, dos 50 mil metros quadrados do estabelecimento educacional, será transformada em um moderno complexo condominial. 

O projeto intitulado Oasis Boa Vista, terá um teatro com capacidade para 800 pessoas e uma casa de recepções, com mesma capacidade. Além disso, um edifício garagem, para 1250 carros; Um centro hospitalar com 150 leitos, uma faculdade, um centro de pesquisa, um clinical center, Um espaço de 1300 metros quadrados para lojas, um residencial senior, um coliving e 450 apartamentos tipo studio, de 1 a 4 quartos.


Área do Colégio Salesiano atualmente

Seu material de divulgação diz que o projeto contribui com conceitos avançados para a revitalização do bairro junto com outras iniciativas públicas e privadas e, derruba muros para se abrir à cidade com passeios e jardins de uso público, permitindo o resgate e o fortalecimento da função educacional do Salesiano.

Apresentado em 2019, só apenas no primeiro semestre desse ano é que teve autorização da Prefeitura do Recife para início das obras.

Em nota, divulgada ainda naquele ano, o diretor pedagógico do Colégio, Luiz Ventura, informou que parte do projeto de sobrevivência da centenária unidade de ensino é a reformulação da proposta pedagógica. "Preparamos o projeto para uma escola de, no máximo, mil alunos, que terão um ensino de excelência. Salas foram modernizadas para o espaço projetado para uma unidade mais enxuta. Já fizemos investimentos com recursos próprios, mas a ideia é usar o que for arrecadado com o projeto do Oásis para garantir mais investimento no colégio", explicou.

Projeção de Área após execução do projeto

Em um comunicado enviado aos pais, ainda em 2019, a instituição esclareceu que o projeto não se tratava da venda do terreno do colégio. O texto garantia ainda que a redução no espaço físico dedicado à escola não afetaria a qualidade de ensino. "Não existe venda do terreno parcial ou total para nenhuma empresa, e sim uma forma de manter o colégio sustentável financeiramente, para a manutenção da estrutura, dos prédios históricos, da Basílica, do Teatro Boa Vista e de nossos projetos sociais, além de possibilitar que sejam feitas melhorias no Colégio", disse o texto divulgado.

ARQUITETA E URBANISTA QUESTIONA PROJETO

Em 2019, logo após lançamento do projeto, a arquiteta e urbanista Juliana Barreto, publicou artigo, num dos grande jornais da cidade, no qual questionava o empreendimento.

"O histórico conjunto arquitetônico do conhecido Colégio Salesiano, situado no bairro da Boa Vista, tem sobrevivido ao tempo como um marco na paisagem da cidade. Para além dos fatos relevantes que marcaram seu surgimento, o significativo caráter do conjunto foi reconhecido pelo poder público municipal, nos anos de 1990, como Imóvel de Proteção de Área Verde (IPAV). Sob essa qualificação, estão os imóveis que constituem uma Unidade de Equilíbrio Ambiental, cujas funções paisagísticas estão diretamente associadas às amenizações climáticas e ao desfrute da cobertura vegetal como alternativas de renovação do ar e do bem-estar dos cidadãos, dentro do conturbado cenário urbano. Isso significa dizer que os elementos vegetais, o solo natural e as áreas livres são seus atributos mais importantes e prevalentes sobre os índices de densidade construtiva no imóvel.

Ocorre que o aumento da temperatura na cidade do Recife, aliado ao crítico congestionamento agravado pelo transporte particular, já é um fato concreto. Nesses termos, pensar o desenvolvimento urbano, sobretudo das regiões centrais, nas quais se enquadra o bairro da Boa Vista, requer uma reflexão mais profícua sobre a relação indissociável entre a verticalização e a capacidade de carga das vias, o que não é nada complexo. Requer ainda refletir sobre a relação das novas construções na paisagem em que se propõe inseridas, principalmente essa que é historicamente conformada.

No entanto, parece que no caso do Colégio Salesiano sua condição de IPAV tem sido obliterada em seu sentido estrutural, relegada em função de um projeto arquitetônico que subdivide o lote e destrói parte das edificações, sob a proposta de adensamento construtivo em altura (algumas torres de muitos pavimentos). Soluções isoladas de plantio de jardins, sob a égide da ‘sustentabilidade’ – conceito que de tanto corrompido tem se tornado sem expressão, têm sido a retórica para a fundamentação do projeto, que também é defendido como única alternativa para a manutenção econômica do imóvel, que vem perdendo gradualmente seu prestígio em suas funções educativas. Parece que as razoáveis alternativas de requalificação urbana ou de reverência respeitosa ao preexistente e ao meio ambiente têm sido preteridas em função da intensa exploração imobiliária.

Mais uma vez, parece evidente que esse imposto modelo de intervenção não é o que melhor representa a busca por uma cidade saudável e não dialoga com a estrutura edificada do bairro, nem com a paisagem, nem com seus cidadãos. Alinhado ao aparente descaso da gestão pública, ainda batizam o projeto de “Oasis”. Resta-nos a questão: para quem?", escreveu.

EX-ALUNOS LAMENTAM

A partir do momento que as fotos começaram a circular nas redes sociais, centenas de ex-alunos teceram todos os tipos de comentários

Tatiane Cybelle Góes, jornalista,  que estudou no Salesiano, do infantil ao terceiro ano, do início da década de 80 a 1995, falou: "A gente não sabe o que vem acontecendo com o lado financeiro do Salesiano. Mas, pode ser que se assemelhe à situação do Contato e outros colégios. É uma pena! Tudo aquilo tem uma história. Gostaria que o colégio ainda perpetuasse por muitos anos".

O também ex-aluno Agenor Cordeiro falou: "Gente, vê se eu aguento isso? A demolição chegou na quadra Dom Bosco. Quanta tristeza. Onde tudo começou, na minha vida de atleta e professor. Quem sabe da minha história, deve imaginar o que estou sentindo. Vou parar por aqui!", lamentou emocionado.

POSIÇÃO DA ESCOLA

Nossa reportagem tentou contato diversas vezes com a assessoria de imprensa do Colégio, mas não obteve resposta aos questionamentos.

Por Gabriel Diniz

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2 Comentários

  1. Tive muitas histórias neste espetacular colégio minha vida esportiva no handebol, campeão escolar em 1980
    Estou muito triste 😢 com essa notícia conheço a congregação por dentro e por fora, sei das dificuldades financeiras ela é real. Apenas lamento a destruição da quadra onde fui vice campeão Mirim jogando pelo Instituto Capibaribe. Infelizmente tudo acaba aqui ficando só as lembranças e as fotos.

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  2. Meu Deus!! Ali vivemos toda uma vida escolar e religiosa. São muitas recordações, inesquecíveis! Ainda mantemos Contatos com grupos de ex-alunos. Não quero nem ver as fotografias, pois me partem o coração.

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