Fecham-se as cortinas para o ator e escritor Reinaldo de Oliveira

As cortinas se fecharam e a temporada do espetáculo da vida de Reinaldo de Oliveira, a estrela maior do teatro pernambucano,  se encerrou neste sábado (09).

Médico cirurgião, cronista, compositor, ator e diretor de teatro, Reinaldo partiu aos 91 anos.

Ele morreu de causas naturais, deixando a esposa Paula Meirelles,  quatro filhos e sete netos. Segundo a família, ele estava tomando café da manhã, com o cuidador, quando sofreu uma parada cardíaca. Ainda de acordo com parentes, os médicos tentaram reanimá-lo por meia-hora, mas ele não resistiu.

Reinaldo de Oliveira tinha duas paixões: o teatro e a medicina. 

BIOGRAFIA

Reinaldo da Rosa Borges de Oliveira nasceu em 1930, e era filho de Valdemar e Diná de Oliveira, ambos envolvidos com artes cênicas.

Começou a atuar ainda criança, em 1939, na peça "O pequeno polegar", uma montagem infantil do Grupo Gente Nossa (1931-1939), que em 1941 passou a ser o TAP (Teatro Amadores de Pernambuco), criado pelo seu pai.

O ator viveu como poucos pernambucanos, seja pela longevidade ou por sua vida atravessada pelo teatro. "Acho que fiz tudo o que devia, de agora em diante é com a nova geração. Gostaria que o TAP continuasse no caminho atual", avaliou em uma entrevista dada, em 2018, a um jornal local. 

Na sociedade pernambucana, a admiração por Reinaldo de Oliveira transcende a cena teatral e seu público. 

Um exemplo foi a sua atuação no Rotary Internacional, antiga associação de clubes que promove serviços humanitários e valores éticos. Ele fez parte do Rotary Clube de Casa Amarela, na Zona Norte do Recife, e foi governador do Distrito 4500 (que abrange todas as cidades de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte), entre 1994 e 1995.

Durante 42 anos, Reinaldo foi o diretor-geral do TAP. 

Em 2020, passou a ser presidente de honra desse grupo teatral. 

Com relação à paixão pela medicina, se formou pela Universidade de Pernambuco (UPE) e exerceu a profissão de cirurgião-geral.

Apaixonado pela cultura pernambucana, Reinaldo compôs frevos, maracatus e ganhou prêmios em festivais. É dele a autoria do Hino do CPOR, da Canção do Anestesista e do Hino do Centenário do Rotary Internacional.


Também escreveu vários livros, como a biografia "Reinaldo de Oliveira - Do bisturi ao palco" (2018), e fez parte da Sociedade dos Médicos Escritores de Pernambuco. 

Além disso, ocupou a cadeira de número 24 da Academia Pernambucana de Letras (APL).

A última atuação de Reinaldo nos palcos foi no espetáculo "Bibi em casa de Ferreira, espírito de palco", sobre a vida de Bibi Ferreira, outra grande artista do teatro brasileiro. 

O espetáculo foi encenado em 2019, no Teatro de Santa Isabel, no bairro de Santo Antônio, no Centro do Recife.

Ainda em 2019, Reinaldo sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), o que afetou a compreensibilidade de sua fala. 

Com a saúde já fragilizada pela idade, Reinaldo morava em Boa Viagem, com a esposa Paula e a filha, Diná, de seu primeiro casamento, com a também atriz e diretora de teatro Dulcinéia de Oliveira, falecida em 2007.

PESAR

Por meio de nota, a Academia Pernambucana de Letras manifestou "profundo pesar pelo falecimento do acadêmico Reinaldo de Oliveira, ao tempo em que apresenta sinceras condolências a seus familiares e amigos".

No texto, a APL se referiu a Reinado como uma "referência na história do teatro pernambucano" e disse que ele "deixa um legado de importantes contribuições para a arte e a cultura do povo pernambucano".

Também por meio de nota, a Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife lamentaram, "com grande pesar", a morte de Reinaldo de Oliveira, a quem se referiram como "um dos nomes mais importantes que já produziu e foi produzido pela cena teatral do Recife".

Ainda no comunicado, disseram que Reinaldo era um "homem de muitos talentos, que soube falar, com maestria, quase todas as linguagens da arte". Também afirmaram que o amor dele "pela cultura não conhecia limites e ia além do teatro, a grande paixão" e que a arte dele "segue, para sempre, escrita na nossa história".

A atriz Clenira Mello, com quem Reinaldo dividiu o palco de diversos espetáculos, entre eles "Um Sábado em 30", do Teatro de Amadores de Pernambuco, uma peça escrita por Luiz Marinho, ambientada durante a Revolução de 1930, que levou Getúlio Vargas ao poder. A trama retratava vida de uma família abastada do interior de Pernambuco, também publicou nota em seu Instagram:

"Reinaldo de Oliveira, homem do palco, do bisturi e da caneta. Tudo em doses de entrega e competência extraordinária. Dividimos a amizade e o palco também em doses substanciais. Fomos parceiro inúmeras vezes dividindo o entusiasmo e a vontade de fazer teatro no mesmo diapasão. Vá meu amigo, é chegada a hora de você escrever, dirigir, atuar, interpretar, cantar, dançar, no palco mais iluminado que vc verá. Jamais terei um parceiro igual. A saudade já é inominável. Mas o conforto acontecerá nas imagens, nos textos, nas músicas deixadas por você e nos grandes momentos que vivemos em família e nos palcos. Adeus e obrigada meu eterno amigo. Teu caminho será de luz, como foi a tua vida."

ADEUS

O corpo de Reinaldo de Oliveira foi velado no Cemitério Morada da Paz, localizado em Paulista, no Grande Recife, onde, no início da noite deste sábado, foi sepultado.

Com informações do G1PE, DP e JC

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